Usar tracing no desenho é errado?

E vamos para mais um post polêmico… Mas dessa vez para falar sobre tracing. E principalmente, se é errado usar tracing no desenho. E a resposta bem direta sobre isso é DEPENDE. Isso porque existem muitas coisas envolvidas no processo de tracing. E antes de entender os itens envolvidos nessa “técnica”, vamos entender primeiro o que é esse tal de tracing.

O que é Tracing?

O tracing (ou “traçando” traduzindo para o português) é o processo de fazer um desenho por cima de outro. Ou seja, é um processo que consiste basicamente em pegar um desenho, colocar uma folha por cima dele e fazer uma “cópia”. Podendo ser feito ainda com a mesa de luz e o decalque.

E ao contrário do que muitas pessoas pensam, o tracing não é nem um pouco recente. Afinal, antigamente não existiam mesas de luz, scanners ou mesmo máquinas de xérox. Em outras palavras, quando o artista queria fazer uma “cópia” de um determinado trabalho, ele precisava necessariamente fazer um “tracing”.

Sem contar ainda, que é algo que pode ser usado pelo artista no processo do desenho. Principalmente ao fazer um esboço ou para repassar esse esboço para uma outra folha. Mas calma, que ainda vamos chegar nesse ponto.

É Errado Usar Tracing no Desenho?

Agora que você já entendeu o que é o tracing, vamos falar do seu uso prático. E se é realmente errado usar essa “técnica” nos seus desenhos. Então, antes de mais nada, vamos analisar alguns casos de usos de tracing.

Primeiro caso: imagine que você não saiba desenhar, mas ainda sim queira fazer um desenho do Naruto. E, assim como boa parte dos fãs de Naruto, não quer passar meses e até anos aprendendo desenho apenas para desenhar seu personagem favorito. Então, você decide fazer um “tracing” de um desenho de Naruto que você achou legal.

Esse é um cenário bem comum de ser visto na comunidade de anime/mangá hoje em dia. E é uso bem “inofensivo” do tracing. Isso porque, na maioria dos casos, são apenas fãs fazendo desenhos para postar em suas redes sociais.

O problema mesmo é quando isso vai para um lado comercial, como já falei em um outro post sobre direitos autorais. E principalmente quando, invés de um personagem famoso de anime, se trata de um OC de algum artista. Ai o bicho pega… O que nos leva para o segundo cenário.

Casos Problemáticos…

Segundo caso: imagine que você viu um OC de algum artista nas redes sociais e por algum motivo decidiu copiar ele. E eu digo copiar mesmo, no estilo “copia e cola”. Não chega nem a ser um “copia, mas não faz igual”. É copiar mesmo, de usar até a mesma paleta de cores e estilo de traço. E mesmo que esse desenho não seja usado para fins comerciais, já é um caso bem problemático. Que entre outras coisas, pode te levar a um belo e caro processo judicial.

Terceiro caso: Imagine que você esteja aprendendo a desenhar e decidiu fazer um tracing de alguma pose ou cenário. Esse é um uso bem comum do tracing. Porém, também é um uso bem problemático. Isso porque você cria o vicio de sempre ter que usar o tracing para desenhar uma determinada coisa.

Em outras palavras, você NÃO vai aprender a desenhar usando o tracing. E isso, independente se é para fazer uma pose, cenário e etc. Além é claro, de que isso pode causar um processo judicial dependendo do que você estiver desenhando (caso tenha direitos autorais).

Quarto caso: Imagine agora que você já saiba desenhar e errou feio no esboço. Do tipo que nem a limpa tipos salva mais. Esse é um belo cenário para usar o tracing. Isso porque você vai estar fazendo sobre um desenho que você já havia feito antes.

O mesmo vale para casos em que você erra em outras etapas do desenho e precisa “refazer” tudo. Nesses casos o tracing acaba facilitando o processo, fazendo com que você não tenha que esboçar tudo novamente.

Uso do Tracing no Meio Comercial

Quinto caso: o quinto e último caso é um pouco diferente. Isso porque ele acontece principalmente no meio comercial de HQ’s e Mangás. Nesses casos o tracing faz parte do dia a dia do desenhista. Basta ver algumas obras famosas de grandes editoras, como Marvel e DC. Alguns “tracings” chegam a ser bem discretos, do tipo que o desenhista se esforça para mudar algumas coisas. Mas tem alguns… que é copia na cara dura mesmo. Do tipo que copia o personagem inteiro e muda apenas o nome e por ai vai.

O mesmo vale para as editoras de mangás. Só que que no japão, isso já não é nem chamado de tracing mais. É algo tão normal, tão rotineiro que é como tomar um café de manhã. Além disso, se tirassem o tracing não existiriam mais obras para publicar.

E não, não estou exagerando. Basta ver alguns cenários de mangá, como casas, cidades, escolas, florestas etc. A grande maioria é tudo feito com “retículas” prontas (tradicional ou digital). E o mangaká acaba desenhando apenas os personagens em si.

Mas isso tem um motivo. E diferentemente do que acontece aqui no Brasil ou nos EUA. Quando falamos do Japão, estamos falando de uma produção de mangás e animes que é totalmente frenética. E quase sempre, possui prazos de publicação muito curtos. O que leva não só ao uso de retículas prontas e tracing. Mas também a alguns mangás e animes relativamente mal acabados.

Conclusão – Usar Tracing no Desenho é Errado?

Como você pode perceber, o tracing em si não é o problema, mas sim seu uso. Então, antes de sair julgando alguém que está usando tracing em seus desenhos, veja a MANEIRA como ele está usando.

Lembrando ainda que há casos em que é irrelevante dizer que a pessoa está usando tracing. Como por exemplo, quando a pessoa usa em desenhos realistas e hiper-realistas. Onde o foco principal é manter a FIDELIDADE a imagem original. Nesses casos é praticamente indispensável usar alguma técnica ou ferramenta para fazer um “tracing”.

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4 Comentários

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  1. É errado eu usar os traços de um artista para fazer meus próprios desenhos? Apenas os traços, não personagens, etc, eu tenho vontade de criar futuramente alguns quadrinhos com minhas próprias histórias e personagens usando os traços desse autor, mas tenho muito medo disso ser errado.

    • Bom, não é simples responder essa pergunta. Até porque ela tem 2 interpretações ao meu ver, a primeira que é de usar o traço (line art) em si e a segunda que é usar o estilo do desenho. No caso do traço, isso pode te gerar um vício de desenho caso você foque em usar o traço de outro artista. E isso torna bem mais difícil de você desenvolver seu próprio traço. No segundo caso, de usar o “estilo”, principalmente o “shape” do personagem, é menos problemático. Desde que você também não pegue um personagem super estilizado como os de naruto ou dragon ball para usar como “base” para seu mangá. Como eu falei no post, existe muito tracing na industria de quadrinhos e mangás, então vai muito do “bom senso” de qual personagem/shape você vai usar como referência. Tipo, se você usa o naruto como base, mas muda o nome e as cores dele no seu mangá, ainda sim, todo mundo sabe que é o naruto, saca?